DEUS MEU, DEUS MEU; POR QUE ME DESAMPARASTE?
MARCOS 15, 33-39
Quantas vezes você já repetiu esta frase? Quantas vezes já sentiu vontade de jogar tudo para o alto e abandonar o barco no meio da viagem?
Pois então, foi isso que Jesus sentiu naquele momento de dor e angustia. Ele Já havia falado da palavra de Deus por mais de três anos e formado um grupo de discípulos, doze apóstolos, mas naquele momento se sentiu abandonado, pois todos fugiram. Por que
Essa é a pergunta que passa pela cabeça de muitas pessoas quando tudo vai mal na sua vida. Certamente você já fez alguma dessas perguntas:
- Por que Deus tirou o meu namorado / namorada?
- Por que Deus tirou a minha saude?
- Por que Deus levou a minha esposa / esposo?
- Por que Deus tirou o meu trabalho?
- Por que Deus... ?
São infinitas as perguntas que fazemos e muitas vezes não temos resposta. Talvez você já tenha perguntado: "onde Deus estava naquele momento em que eu sofria tanto?"
Daí você se lembra das palavras de Jesus "Eis que estarei convosco até o final dos tempos" (Mateus 28, 20), que parece até ser confortante, mas surge outra pergunta intrigante: Mas se Deus estava comigo, porque me aconteceu isso? Mais uma vez você cai no vazio, na solidão, na falta de esperança.
Por outro lado, acreditamos que Jesus é o filho de Deus, e se é o filho de Deus, por que Ele o abandonaria naquele momento de tanta dor e aflição?
Se você olhar pelo lado humano, vai ver que tudo parece ser enganador, vazio. Parece que estamos realmente abandonados, desamparados e que Deus não existe
Se Deus existisse eu não teria sofrido tanto, dizem algumas pessoas que não acreditam em Deus e não tem fé. Já pensou o que é viver sem fé, sem esperança, sem saber de onde veio e para onde vai? É horrível.
"Elevo os meus olhos para os montes. De onde me virá o socorro?" (salmo 121, 1) Essa foi a interrogação de Davi depois que perdeu seu melhor amigo, o profeta Samuel. Ele vivia fugindo do rei Saul, que queria tirar sua vida, mas Samuel era quem sempre o protegia das vinganças do rei Saul. Aí está um bom exemplo do que é ser amigo.
Os montes estão sempre presentes em nossa vida e quando você olha para eles, o que sente: vontade de vencê-los ou vontade de abandonar tudo e desistir da vida?
Dois amigos foram presos numa mesma cela onde só havia duas janelinhas por onde podiam olhar para fora. Um deles foi até a janela e olhou para baixo e viu lama. Começou a blasfemar a vida dizendo que o mundo é só lama, sujeira e que não compensa viver. O outro foi até a janela e olhou para o alto e viu o céu estrelado e começou a louvar a Deus pela beleza do universo criado. Qual deles representa você: aquele que viu lama e começou a blasfemar ou o que viu a beleza do universo e começou a louvar? A vida é o que você pensa dela: se pensa coisa boa, ela vai ser boa, mas se pensar coisa ruim, ela não vai prestar para você.
Eu vivi uma parte da minha vida como aquele que só via lama no mundo, não tinha esperança, não tinha religião, não conhecia Deus. A vida para mim era um grande vazio, pois não consegui entender por que estava neste mundo sofrendo. Por que tanto sofrimento? Por que ...?
Nunca tinha resposta para minhas perguntas, até que comecei a buscar resposta no alcoolismo, mas só encontrei desastre.
Finalmente chegou um dia em que alguém bateu em minha porta me oferecendo um curso bíblico que seria ministrado numa tenda perto de casa e quem fizesse o curso sem perder nenhum dia, ganharia uma bíblia. Eu me interessei pela bíblia, mesmo não conhecendo bíblia. Nunca tinha pegado numa bíblia, mas me interessei em ganhar essa bíblia. Comecei então a participar das reuniões que aconteciam todos os dias à noite.
Como tinha problema com o alcoolismo, comecei a sentir vergonha de beber e depois ir à reunião. Tomei então uma decisão de largar a bebida para freqüentar as reuniões, pois queria ganhar a bíblia a qualquer custo. Preferi abandonar tudo o que me era importante para ganhar a bíblia.
Até hoje não consigo entender como alguém pode lutar tanto por uma simples bíblia, sendo que não conhecia nada de bíblia. Se fosse para ganhar algo de grande valor, até que seria fácil entender, mas por uma bíblia. Não era fácil sair do trabalho, chegar em casa, me preparar e ir nas reuniões todas as noites, pois no outro dia teria que levantar cedo novamente, mas eu fiz isso apenas por uma simples bíblia.
Ao final do curso, que durou quarenta noites, eu finalmente ganhei a tão sonhada bíblia e aquele foi o momento mais feliz da minha vida, não só pelo fato de ter ganhado a bíblia, mas também porque eu agora era um homem transformado, já não era mais escravo do alcoolismo e nem de vicio algum. Era agora um homem de fé, de esperança, alguém que acreditava em Deus. Mas a vida nem sempre é um mar de rosas, e mesmo que fosse, as rosas tem seus espinhos que são cruéis. Toda aquela fé, todo aquele entusiasmo caiu por terra quando conheci uma jovem por quem jurei amar e me casar com ela, mas para isso tive que abandonar um sonho de infância, que era ser professor. Já estava com tudo pronto para ir embora para um colégio interno em São Paulo, mas não tive coragem de deixar a pessoa a quem amava sofrendo para ir estudar. Abandonei o sonho e me casei. Naquele momento parece que o mundo desabou sobre mim, pois a comunidade a qual eu pertencia me crucificaram e me condenaram pela decisão tomada. Fui abandonado e desprezado por todos, mas não pela pessoa amada.
Como eu poderia pensar no meu bem estar e deixar uma pessoa amada sofrendo? Jamais eu faria isso. Preferi pagar o mais alto preço por esta decisão de que abandonar alguém a quem amava de verdade.
O tempo passou e quando tudo parecia estar entrando no acordo, mais uma vez o destino me apunhalou pelas costas. Fui condenado por uma infecção no pé esquerdo, a qual me fez perdê-lo. Foi quase um ano de sofrimento intenso, sem sair de casa, em cima de uma cama. Quando finalmente melhorei, parecia que tudo se normalizaria, mas fui apunhalado covardemente pela comunidade a qual eu participava mais uma vez. Por essa eu não esperava, pois já era membro da comunidade há sete anos e a amava muito. Que facada dolorosa foi essa! Eu chorei durante muito tempo quando me lembrava da covarde traição. A dor mais forte que um ser humano pode sentir é a dor da traição, pois além da covardia da comunidade, a ironia dos familiares que eram contra a minha participação naquela comunidade. Foram pedradas e mais pedradas. Onde Deus está? Perguntava eu, já que o tinha servido por sete anos, mas como o sol sempre volta a brilhar depois da tempestade, o sol voltou a brilhar na minha vida. Depois de mais de quinze anos de sofrimento, eu consegui colocar uma prótese no pé esquerdo, agora posso andar normal. O que eu jamais esperava era que o ingrato destino fosse me golpear novamente com um golpe fatal.
Depois de dezoito anos de luta e sofrimento, agora já quase vencida a batalha, com as duas filhas casadas, dois netos lindos, eu fazia planos de viajar com minha esposa no próximo ano. Iríamos visitar os parentes que estão distantes, mas o destino fez um plano diferente: levou ela para a vida eterna. Que golpe doloroso! Esse eu jamais esperava que fosse acontecer tão de repente.
Onde está meu Deus, que não vê o meu sofrimento? Quanta dor, quanta aflição, quanto desgosto, meu Deus e o Senhor não vêem isso?
Este é o meu lamento. Mas a palavra de Deus me conforta com as palavras de Paulo aos Tessalonicences 5, 18 que diz: "Em tudo daí graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus."
A palavra nos diz que devemos dar graças em todos os momentos, não só quando tudo vai bem. Dar graças quando tudo vai bem é muito fácil, mas dar graças quando tudo vai mal é um desafio que somente um cristão verdadeiro consegue. Se você ler Atos dos apóstolos, vai ver que eles davam graças a Deus mesmo na prisão.
Deus jamais nos abandona, mesmo quando tudo vai mal em nossa vida. Ele não abandonou Jesus naquele momento de dor, é que ele não conseguia ver a presença do pai ao pé da cruz. Nós também não conseguimos ver Jesus quando as coisas vão mal em nossa vida porque ele está conosco nos braços. Ele está do seu lado, chorando com você nos momentos difíceis e sorrindo com você quando tudo vai bem.
"vendo o Centurião tudo o que tinha acontecido, deu graças dizendo: verdadeiramente este homem era justo." (Lucas 23,47)
Não se desespere, pois a tempestade poderá durar uma noite toda, mas o sol brilhará ao amanhecer.
Agostinho José da Silva Pereira
POR QUE, MEU AMOR?
Ah como eu queria saber
Porque você me deixou
Te amava tanto que entreguei
A você todo meu amor
Dias felizes passamos juntos
No deserto do amor
Ma sem dizer nada você partiu
Me deixando somente a dor
Como são tristes os meus dias
Pois já não sinto teu calor
Como são frias as minhas noites
Não adianta cobertor
Por que nunca me dissestes
Como é amargo sofrer por amor
A dor mais triste do mundo
É perder um grande amor
Caminhando vou pela estrada
Estrada do destino traidor
Sempre perguntando
Por que me deixaste, meu amor?
MARIA CONCEIÇÃO GOMES, nascida em SERICITA - MG aos 12 de dezembro de 1.968, filha de GENI MARTINS LOPES DE OLIVEIRA e JOÃO DA MATA GOMES foi uma jovem que teve sua vida marcada pelo sofrimento desde as primeiras horas da infancia. Nascida na roça em meio a pobreza e sem recursos médicos venceu as mais duras batalhas da vida, como enfermidades, separação dos pais, trabalho esxessivo e brutal e muitas outras coisas.
Como de costume, na roça as crianças começam a trabalhar desde os sete a oito anos de idade, muitas vezes até mais novo. Não tem acesso à escola muitas vezes, ou até mesmo quando tem esse acesso, não tem condições fisicas para estudar devido ao cansaço do trabalho excessivo. Foi o que aconteceu com ela, não teve condições de estudar devido às dificuldades do dia a dia, pois sua familia era muito pobre e todos tinham que trabalhar para sustentar a casa. Sua mãe era muito enferma e muitas vezes não tinha condições de trabalhar, ficando assim a parte mais pesada para os filhos, que tinham que sustentar a casa. Ela e mais cinco irmãos passaram por esta vida difícil.
Aos vinte anos de idade, ela resolveu mudar para uma cidade grande para tentar melhorar de vida, tentar dar uma vida melhor para sua familia, principalmente sua mãe, mas o destino lhe preparava uma surpresa muito desagradável.
Incentivada por uma família vizinha, ela veio para SÃO PAULO - SP para trabalhar em casa de famillia e morar no emprego, mas nada foi conforme o combinado. A familia que trouxe-a era umas pessoas de má fé, pessoas que gostam de aproveitar de pessoas humildes e aconteceu que ela acabou sendo enganada por essa família, trabalhou sem receber salário e acima de tudo, um trabalho quase escravo. Foram meses de sofrimento nesta casa de família, até que essa família mudou-se para SÃOJOSÉ DO RIO PRETO - SP, onde eu a conheci. Feliz foi aquele dia em que no jardim encontrei uma flor seu
sorriso me trouxe esperançaseu odor me trouxe novo amor
Eu a conheci na igreja, pois a familia para quem ela trabalhava participava da igreja que eu tambem participava, dai tiveram a ideia de fazer com que a gente se conhecesse e comessasse a namorar para que ela ficasse tranquila na casa deles e nao quisesse ir embora como era desejo dela. No entendimento deles o nosso namoro seria uma farsa para segurar ela no emprego, mas eu jamais concordei com isso e levamos a sério o namoro. Foi uma grande batalha, pois eu comecei a denunciar os abusos, até comuniquei a familia dela, mas eles não tinham condições de vir onde ela estava, dai me deram carta branca para agir. Foi o que fiz. Namoramos durante um periodo de sete meses, mas esse periodo foi de constantes desentendimentos, atritos e conflitos - eu com ela e eu com a familia para quem ela trabalhava. Sem contar que ela tambem enfrentava uma terrivel batalha no emprego, pois tentava denunciar os abusos mas não conseguia vencer, pois não tinha estudo e nem conhecimento, dessa forma ficava facil eles a dominarem. Comigo foi diferente, pois eu enfrentei a batalha com testa de ferro e venci.
O clima esquentou quando eles viram que eu estava levando a sério o assunto e ia libertá-la, foi terrivel. Tentaram de toda forma nos separar, mas Deus estava comigo e não deixou que eu vacilasse. Não cai em menitras deles e nem entrei no jogo deles, fiz o meu jogo.
Em maio de 1.991 ela tomou uma firme decisão de que ia sair do emprego e morar comigo, eu a aceitei em minha casa mesmo não tendo condições de me casar naquela época, pois estava desempregado. Foi outra batalha a ser vencida. Os ex-patrões dela vieram em sua busca no mesmo dia, mas eu ja tinha comunicado a familia dela e feito acordo de morarmos juntos até casar. Pensa que deixaram por menos? Nada disso, tentaram de outras formas nos derrotar, mas Deus é maior e a vitória foi nossa.
A VITÓRIA SEMPRE SORRIU PARA O PERSEVERANTE.
Agora foi a vez da comunidade em que participávamos entrar em cena, e foi pra valer mesmo. Unidos aos ex-patroes dela, fizeram de tudo para nos afastar, até a acusaram de ser uma pessoa doente e sem condições de assumir um lar, mas isso não me assustou, passei por cima de tudo, resisti todos os ataques, fiquei sozinho na batalha, mas jamais me entreguei por vencido. Ela veio morar comigo no final de maio de 1991 e em 12/julho/1991 nos casamos no cartório, mas o pior estava por vir, tudo isso era só o começo de uma terrível batalha. Diante de tanta tortura emocional, ela ficou doente e seus problemas de saúde se complicaram, ela sofria de crise convulsiva.
Meses depois, consegui emprego e a coisa deu uma melhorada, mas foi apenas momentos. Trabalhei numa firma uns três meses e sai para fazer uma viagem com ela na casa da família dela em Minas Gerais, na roça. Fazia muito tempo que ela não via a mãe e os irmãos, e eu também queria conhecer os novos familiares. Mal sabia eu que estava começando uma nova batalha mais difícil que a primeira, pois agora o conflito era entre nós. Como já disse antes, eu era evangélico e não concordava com o hábito dela de fumar, pois ela tinha prometido que passaria a ser evangélica depois do casamento. Eu insistia em lhe cobrar isso, mas ela não tinha condições psicológicas de mudar como eu queria que ela mudasse e isso me intrigava muito, eu passava o tempo todo lhe cobrando isso. A gente discutia muito, muito mesmo,mas nunca com violência física, apenas com palavras. O pior foi que, ao chegarmos na roça, descobrimos que ela estava grávida da primeira filha e lá na roça não tem recursos para uma cesária e ela não tinha condições de parto normal. Dai o meu desespero foi muito grande porque se não conseguisse voltar pra São José do Rio Preto, ela teria muito pouca chance de sobreviver a esse parto. Meu desespero também foi porque lá não consegui emprego, e a gente tinha viajado somente com dinheiro da passagem de ida, não tinha como voltar.
Eu fui muito injusto com ela, pois dizia que ela era culpada da gente estar lá naquela situação, sem ter como voltar e eu sem ter como trabalhar. Tudo o que eu queria era conseguir um emprego mas só tinha trabalho na roça e eu não tinha nenhuma experiência com esse tipo de trabalho. A minha sogra não quis que eu fosse trabalhar na roça, ela dizia que era muito pesado pra mim, mas eles me tratavam muito bem, tanto ela como os meus cunhados, mesmo assim eu não me conformava em ficar dependendo deles, achava que não era justo ficar sem trabalhar e eles trabalhando duro na roça. Minha esposa sofreu muito com isso, pois tudo o que ela queria era rever a mãe que não via já fazia muito tempo, e eu fiz de tudo pra realizar esse sonho dela, mas me esqueci de ir bem prevenido. Como se diz, um homem prevenido vale por dois, mas eu estava desprevenido.
Para voltar, eu escrevi para minha mãe para que ela desse um jeito de arrumar dinheiro por aqui para que a gente voltasse, mas não foi fácil para ela conseguir. Isso foi no mês de outubro quando a gente viajou para lá e em dezembro começaram as chuvas, impossibilitando assim a nossa saída de lá, pois quando chove carro nenhum sai de lá da roça devido as estradas serem de terra e faz muito barro. Em janeiro, minha mãe já tinha conseguido o dinheiro e nos mandou, mas a dificuldade era muito grande para sair devido ter acabado de passar o tempo de chuva. Saímos de lá no finalzinho de janeiro, mas para chegar da roça na cidade vizinha foi preciso irmos a pé, andamos uns 20 kilômetros carregando as malas. Não foi nada fácil, mas daí chegamos na cidade vizinha JEQUIRI e viajamos para a outra cidade PONTE NOVA, de onde viajamos para BELO HORIZONTE, de onde viríamos para SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, mas um imprevisto aconteceu e nos colocou no maior transtorno.
Eu havia pesquisado preço de passagem dias antes e estava com o dinheiro contado para a passagem, mas um dia antes houve um aumento nos preços de passagem e o dinheiro que tínhamos não era suficiente para voltar, que sufoco! Daí eu senti o mundo desabar, pois como faria para continuar a viagem, se voltasse estaria perdido, seria impossível conseguir outro dinheiro. Quase entrei em pânico, mas pensei melhor e comecei a ver as opções de viagem, daí descobri que o dinheiro dava para viajar até CAMPINAS, que é no estado de SÃO PAULO e assim estaria bem mais perto de casa. Eu tive uma idéia, lá em CAMPINAS eu procuraria a igreja que eu freqüentava e alguém daria um jeito de me arrumar dinheiro para voltar. Daí lembrei que tinha levado uma revista da igreja e peguei essa revista e encontrei o endereço da igreja. Foi a solução.
Chegando lá, fui procurar pela igreja, encontrei e falei com um responsável e imediatamente o dinheiro foi arrumado para viajarmos para SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, aonde chegamos já a noite. Parecia que a batalha estava vencida, mas outras maiores estavam pela frente.
Como ela estava grávida, minha sogra estava com medo de que ela viesse embora comigo e eu a maltratasse, devido as discussões que tínhamos lá, mas ela não quis deixar eu voltar sozinho, pois éramos casados e enfrentou a parada de voltar comigo mesmo que algo desse errado. Mas nunca houve agressão física entre nós, era só discussões verbais, mas eram muito freqüentes. Daí ao chegarmos aqui começou o problema do desemprego, eu não conseguia trabalho, o que dificultou muito a nossa vida. Ela não tinha condições de trabalhar pois alem de estar grávida, tinha o problema de saúde. A coisa foi na base do empurrão, eu trabalhava quando tinha serviço, pois era servente de pedreiro e pegava trabalhos avulsos, mas não foi nada fácil. No dia 13 de maio de 1992 a nossa filha mais velha nasceu, a qual eu lhe dei o nome de AURORA, pois acreditava que ela fosse trazer paz na família porque –
devido eu ser evangélico, o conflito era muito grande entre eu e a minha família, principalmente minha irmã. Eu era muito fanático, colocava placa de igreja em primeiro lugar, ao invés de colocar DEUS e isso me causava grande transtorno. Não aceita emprego que trabalhasse no sábado e por isso tinha dificuldade em conseguir emprego, mas insistia no erro, batia o pé. Com isso minha Irma se afastou de mim e criava problemas porque minha mãe me ajudava, era realmente um tempo quente. Eu acreditava assim, que a minha filha fosse seguir o meu exemplo e com isso todos fossem para a igreja, que era o meu maior sonho, principalmente a minha esposa. Esse foi o motivo pelo qual lhe escolhi esse nome, AURORA que significa AMANHECER. Para mim, todos se convertendo na mesma religião seria um novo amanhecer na minha vida.
O nascimento dessa filha foi motivo de grande alegria no lar, mas os problemas continuavam, eu fanático na igreja, sem trabalho, com filha pequena e tudo mais. Minha esposa não questionava a vida difícil, a única coisa que ela questionava era o meu fanatismo, mas isso não tinha solução, pois eu era teimoso, batia o pé e todos tinham que aceitar. Sei que ela sofreu muito com a minha teimosia, fui reconhecer isso quando já era tarde demais, quando não tinha mais volta. A vaca já tinha ido pro brejo, mas você vai ver isso mais pra frente.
Quando a AURORA tinha media de 10 a 11 meses, ela ficou grávida da ANGELICA, e isso foi motivo de grande tristeza para ela, pois tudo ia mal na nossa vida e agora mais uma filha, como seria a vida! Eu sem emprego fixo, fanático na igreja, não mudava de atitudes, era realmente uma coisa complicada, uma filha começando a andar e a outra no colo. Ela sofreu muito na gravidez dessa segunda filha, foram nove meses de sofrimento para ela. Quando ela estava no quinto mês de gestação, uma tragédia aconteceu: ela teve meningite e precisou ficar uma semana no hospital em tratamento. Foi uma barra pesada, pois ao mesmo tempo em que ela ficou doente, minha mãe também ficou e
cada uma ficou em hospital diferente. Eu cuidava da AURORA que era pequena e ia visitar as duas no hospital. Deixava a menina com uma vizinha até voltar do hospital, que batalha, não tinha dinheiro para ir de circular, tinha que ir a pé, mas venci essa batalha.
No dia 26 de janeiro de 1994, nasceu nossa segunda filha, a ANGELICA. Foi um momento feliz, mas infelizmente durou pouco. Em abril do mesmo ano aconteceu uma tragédia maior, foi o meu problema de saúde. Nesse tempo eu estava trabalhando com uma pessoa da igreja, mas trabalhava e não via dinheiro, pois essa pessoa era mal pagadora. Foi nesse período que apareceu um pequeno problema no meu pé esquerdo, uma bolha d’água, como de queimado. Aquela bolha furou e ali começou a infeccionar, mas como era uma coisa tão simples nem dei atenção, pois nem doía. Aquela infecção foi evoluindo e eu nem me preocupando, até que a coisa ficou feia, meu pé começou a ficar preto, sinal de necrose, daí eu fui para o hospital, mas já era tarde, foi preciso amputar o pé. Fiquei duas semanas no hospital, mas dai revoltei-me com o tratamento e pedi para minha mãe me tirar daquele hospital e levar para outro, daí fiquei mais uma semana no outro. Quando vim pra casa, não conseguia levantar da cama, sentia muita dor e alem do mais, não sabia usar muletas. Fiquei uns três meses sem sair da cama, que vida! Minha esposa cuidava de mim com muito amor e carinho, nunca me abandonou por causa dos problemas. Em julho do mesmo ano, outra tragédia aconteceu, essa foi para acabar com tudo mesmo: minha sogra faleceu e não tinha como minha esposa ir ao velório porque era muito longe. Alem do mais, não avisaram que ela estava no hospital, deixaram para avisar depois que ela tinha falecido, e isso levou minha esposa a mergulhar em profunda depressão, pois alem e eu estar em cima de uma cama, agora perde a mãe sem poder ir vê-la. Tudo aconteceu num dia que eu tinha retorno no hospital.
Meu retorno era a tarde e quase na hora do almoço me avisaram do fato ocorrido, mas não tive coragem de contar a ela naquele momento, esperei que voltasse do hospital para contar a ela, mas deu tudo errado, eu tive que ficar no hospital. Foi grande o meu desespero, pois queria lhe contar o que tinha acontecido mas não tinha como, eu sabia que ela ia reagir de forma muito dramática, por isso queria voltar pra casa naquele dia para lhe contar mais tarde, mas não foi o que aconteceu. Outras pessoas lhe contaram e o resultado foi o que eu esperava, ela passou muito mal, e depois ficou muito tempo em depressão. Tudo bem, essa batalha foi vencida, eu comecei a andar com o auxilio de muletas e devagar, já estava indo pela cidade toda quase, foi então que resolvi voltar pra igreja, pois já fazia um ano que eu não ia. Agora é que vem a pior parte da historia, ou a melhor, não sei. Foi a pior devido a gravidade do fato ocorrido, mas foi a melhor porque eu cai em si e acordei pra vida. Então, eu ia à igreja, foi uma grande vitoria para mim, mas jamais esperava que tudo fosse dar errado. Já fazia um ano que eu tinha voltado pra igreja, foi quando a igreja foi reformada e daí alguém de lá, uma pessoa de grande influencia, disse que era perigoso alguém pegar doença devido eu estar com uma ferida no pé e mandou que fossem na minha casa e me orientasse a usar um produto no pé para não sujar o piso da igreja. Quando recebi essa noticia, o mundo desabou sobre minha cabeça, pois jamais esperava que fossem dizer isso em publico, pois minha família não fazia parte da comunidade e não precisavam ouvir uma coisa dessas. Achei a maior falta de respeito o que fizeram, pois se tivessem me chamado num canto em particular e me falado para não ir mais à igreja, eu teria ficado muito mais contente. Ali foi o fim, minha esposa ficou totalmente revoltada e eu não tive mais coragem de voltar lá. Minha família toda me atirou pedras, pois não gostavam daquela comunidade e agora tinham motivo maior para não gostar.
Eu era membro daquela igreja já a sete anos e senti muito esse golpe, chorei muito, muito mesmo. Nesse mesmo tempo, minha esposa tinha começado a vender cosméticos na rua para tentar amenizar a situação que não era nada boa, pois eu não podia trabalhar e nem tinha salário, não tinha conseguido beneficio do INSS. Ela saia de casa cedo e voltava a noite, tentando melhorar a situação, pois ela não era de deixar a peteca cair, era muito esforçada. Até na construção da casa ela trabalhou como servente. Mas sua carreira como vendedora não foi nada brilhante, foi uma historia de completo fracasso, trapaças e desgostos. Ao invés de trazer lucros para casa, trouxe foi dividas, pois o povo comprava e não pagava.
Foi um golpe muito doloroso, pois a levou a ficar muito estressada e deprimida, ao ponto de não saber mais o sentido da vida. Para complicar ainda mais esse momento, um sujeito que se dizia amigo, aproveitou esse momento de fracasso para desrespeitar a nossa família dizendo que a levaria embora, tomando a de mim. Eu já sabia das más intenções dele, mas imaginava que ela fosse expulsá-lo de casa e fiquei quieto, até que aconteceu o pior. Eu me senti um completo fracassado naquele momento, pois o peso na consciência era muito grande por ter feito ela sofrer tanto com a teimosia em seguir a igreja, agora não tinha coragem de a culpar por um desvio de comportamento, sofri muito por não entender o que estava acontecendo. Imaginava que realmente ela fosse me abandonar naquele momento e passei noites sem dormir e chorando, mas um dia eu encostei os dois na parede e disse que tomassem uma decisão, pois não podia continuar do jeito que estava. Foi ai então que ela revelou que estava sendo ameaçada emocionalmente para fazer o que estava fazendo, mas esse sujeito foi expulso de casa. Nós não nos separamos e nem houve brigas por esse motivo, tudo foi resolvido no dialogo, numa boa.
Depois disso ela parou com o trabalho de vendas, mas daí eu consegui um beneficio no INSS e tudo deu uma melhorada. Logo em seguida
eu comecei a trabalhar na sapataria de um amigo, o que me ensinou a profissão. Isso foi em 1997.
O lado positivo de tudo isso foi que eu acordei pra vida, comecei a entender o que realmente é uma religião, quem é Deus, e tudo mais o que sei hoje. Também comecei a freqüentar a comunidade católica, onde fui catequista durante mais de dez anos. Agora veio a bonança, tudo melhorou, a convivência com a família melhorou, minha irmã mudou completamente e foi a melhor coisa que aconteceu. Uns dois anos depois eu perdi o beneficio do INSS e ela começou a trabalhar com reciclagem, era trabalhoso mas ela não desanimou, não deixou a peteca cair. Com isso ela defendia as despesas do dia a dia e isso durou base de uns dois anos, mas em seguida eu consegui me aposentar e tudo voltou ao normal, mas como sempre o destino é traiçoeiro, ela teve complicações na saúde e nesta época eu também estava mal, pois tive problemas com o outro pé e não estava em condições de andar. Ela passou por uma cirurgia, colocou válvula no cérebro porque a doença dela juntava água no cérebro (HIDROCEFALIA), mas depois de um mês no hospital ela voltou pra casa boa, com saúde. Depois disso eu consegui uma prótese e tudo ficou maravilhoso, eu andava normalmente.
Mas a nossa alegria durou pouco, apenas três anos, foi quando ela ficou doente novamente, pois deu complicação na cirurgia, a válvula entupiu e precisou ser trocada. Mas nessa troca ela não teve mais a mesma sorte que antes, dessa vez a coisa ficou feia, ela foi ficando cada dia pior até que chegou o dia final. Mas antes disso, ela ficou mais de uma semana no hospital, sem memória e sem movimento no corpo. Que momento mais duro foi o momento do ADEUS em 28/abril/2010
OBRIGADO MEU AMOR
Obrigado meu amor por tudo que você representou na minha vida, você me ensinou a amar, me ensinou a viver; se sou feliz hoje devo tudo isso a você. Que Deus tenha você do lado dele, e olhe por mim nesta caminhada, nesta missão. Você me deixou muitas saudades dos bons momentos em que passamos juntos, mas eu sei, Deus sabe o que faz e você cumpriu sua missão nesta terra.